O que, de fato, está acontecendo no RS?

Kainos - Edição #008

O que, de fato, está acontecendo no RS?

 Kainos - Edição #008

Causas, impactos e respostas às recentes enchentes no Rio Grande do Sul

Caros leitores,

O assunto é sério e é triste.

Mas não podemos deixar de debater de forma técnica e responsável.

As recentes enchentes no Rio Grande do Sul representam um dos mais graves desastres naturais em nossa história recente.

Nesta edição da news, vamos mergulhar nas causas, impactos e respostas a este trágico evento, e iremos mostrar como as geotecnologias podem auxiliar no enfrentamento de crises ambientais.

Começando pela origem das enchentes.

  1. Precipitação Extrema:

As enchentes foram inicialmente desencadeadas por um volume extraordinário de chuvas que atingiram o Vale do Taquari. Essas chuvas não foram meras ocorrências isoladas, mas sim o resultado de um acumulado que alcançou 200% da média mensal esperada em menos de 24 horas

Esse nível de precipitação é altamente atípico e excede a capacidade de absorção do solo e de escoamento das infraestruturas urbanas e rurais existentes, levando a um rápido aumento nos níveis dos rios.

  1. Fenômeno El Niño e Suas Consequências:

O fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, desempenhou um papel significativo no aumento das precipitações. 

El Niño afeta padrões climáticos globais, resultando em alterações na distribuição e na intensidade das chuvas ao redor do mundo, incluindo o sul do Brasil. Durante os eventos de El Niño, é comum observar um aumento na frequência e intensidade das chuvas na região, o que contribui diretamente para o cenário de enchentes observado.

  1. Impacto do Aquecimento Global:

O aquecimento global tem amplificado os efeitos do El Niño e outros fenômenos climáticos por meio da alteração das dinâmicas atmosféricas. Especificamente, o aumento da temperatura global intensifica o ciclo hidrológico, elevando a taxa de evaporação e consequentemente a quantidade de vapor d'água na atmosfera.

Isso resulta em chuvas mais intensas e frequentes, como as que foram vistas no evento em questão. Adicionalmente, o aquecimento global está associado a uma maior instabilidade atmosférica, o que pode intensificar tempestades e precipitações extremas.

  1. Diferença de Pressão Atmosférica:

Outro fator contributivo foi uma diferença significativa de pressão atmosférica na região central do Brasil, exacerbada pelas condições de aquecimento global. Essas diferenças de pressão ajudam a direcionar massas de ar úmido para a região sul, onde se encontram com barreiras geográficas que forçam a ascensão do ar, levando a condensação e precipitação intensa.

5. Condições Geográficas Locais:

Geograficamente, o Rio Taquari, que teve um papel central nas enchentes, é conhecido por sua vasta bacia hidrográfica que, em condições normais, já é propensa a transbordamentos. No entanto, as enchentes recentes foram de uma magnitude muito maior, com o rio alcançando alturas recordes. A configuração da bacia e a topografia local facilitam o acúmulo rápido de água, exacerbando as inundações.

E o impacto geográfico?

A geografia da região de Porto Alegre, com seu relevo predominantemente plano e circundado por importantes bacias hidrográficas, foi um fator chave na severidade das enchentes. 

Como o rio Taquari e outros afluentes transbordaram, a água acumulada não encontrou saída rápida, resultando em inundação extensa e prolongada. As características topográficas da área intensificaram o estancamento da água, especialmente em zonas de baixa altitude, que rapidamente se transformaram em áreas de desastre.

Adicionalmente, as chuvas contínuas e intensas acentuam a situação, alagando infraestruturas críticas como estradas e pontes, o que isolou comunidades inteiras e dificultou os esforços de resgate e entrega de ajuda emergencial. Este cenário foi agravado pelo fenômeno das "marés de tempestade", que, juntamente com o aumento do nível dos rios, criou uma situação quase insustentável para as defesas fluviais existentes.

Sobre o impacto social:

Socialmente, as consequências das enchentes foram devastadoras. Muitas famílias perderam tudo - casas, pertences e, tragicamente, entes queridos. O deslocamento forçado de centenas de milhares de pessoas para abrigos temporários criou um cenário de incerteza e desespero. Muitos desses abrigos, apesar de fornecerem refúgio, enfrentam problemas de superlotação e falta de recursos básicos, como água potável, o que aumentou a situação de sede e desnutrição entre os deslocados.

O impacto social também se manifestou na forma de uma crise de saúde pública. Com as infraestruturas de saneamento comprometidas e o abastecimento de água contaminado, o risco de doenças transmitidas pela água aumentou dramaticamente. Além disso, a ansiedade e o estresse prolongados entre as vítimas começaram a evidenciar problemas de saúde mental, que necessitam de intervenção psicológica e suporte contínuo.

Nesse cenário, precisamos de uma resposta contínua e comunicativa:

A resposta às enchentes no Rio Grande do Sul requer não apenas ações emergenciais, mas também uma estratégia de comunicação e decisão informada e contínua

A criação do Repositório de Informações Geográficas, elaborado por pesquisadores da UFRGS, é um exemplo notável de como a tecnologia e a colaboração acadêmica podem desempenhar um papel crucial nesse processo.

  1. Repositório de Informações Geográficas:

Este repositório, disponível publicamente através de uma plataforma de Storymaps, foi desenvolvido para fornecer uma visão abrangente e acessível dos impactos geográficos e sociais das enchentes. 

Utilizando uma combinação de análises de dados, imagens de satélite e relatórios de campo, o repositório oferece uma representação visual rica que facilita a compreensão dos fenômenos complexos envolvidos.

Através de mapas interativos e narrativas visuais, este repositório não apenas documenta a extensão das enchentes, mas também destaca áreas críticas para intervenção, zonas de maior vulnerabilidade e progresso dos esforços de recuperação.

  1. Mapa Colaborativo com Pontos de Coleta de doações pelo Brasil:

Em complemento ao Repositório de Informações Geográficas desenvolvido pela UFRGS, a iniciativa do mapa colaborativo criado pela Ambiental Pro é outro exemplo brilhante de como as ferramentas digitais podem ser utilizadas para facilitar a resposta comunitária e a gestão de crises. Esta abordagem colaborativa reforça o papel da tecnologia e da participação comunitária na mitigação das consequências de desastres naturais.

A Ambiental Pro desenvolveu um sistema utilizando o Google Sheets e o Google My Maps para organizar e compartilhar informações sobre pontos de coleta de doações em todo o Brasil. A planilha do Sheets serve como um repositório dinâmico e acessível onde a equipe e voluntários de todo o país podem inserir informações sobre novos pontos de coleta.

O aspecto colaborativo do mapa é particularmente inovador. Qualquer pessoa pode contribuir adicionando informações à planilha, que são posteriormente verificadas e atualizadas no Google My Maps. 

Isso permite que a informação seja centralizada e facilmente acessível, garantindo que as doações possam ser dirigidas aos locais onde são mais necessárias. Este processo não só aumenta a eficiência da distribuição de ajuda, mas também promove uma sensação de comunidade e solidariedade entre os participantes.

Esses são apenas alguns dos benefícios de iniciativas colaborativas como essas:

  • Centralização da Informação: Ao centralizar a informação em um único lugar, a Ambiental Pro garante que os dados sobre os pontos de coleta sejam consistentes, atualizados e facilmente acessíveis para todos. Isso facilita a logística de doação, tornando o processo mais transparente e eficiente.

  • Engajamento Comunitário: A possibilidade de qualquer pessoa contribuir para o mapa fomenta um forte senso de comunidade e responsabilidade compartilhada. Este engajamento direto é essencial em situações de crise, onde a mobilização comunitária pode fazer a diferença entre uma resposta eficaz e uma situação de ajuda insuficiente.

  • Atualização Dinâmica: A natureza dinâmica da planilha permite que as informações sejam atualizadas em tempo real. Isso é crucial em situações de desastre, onde as necessidades e condições podem mudar rapidamente. A capacidade de responder prontamente a essas mudanças é vital para a eficácia dos esforços de ajuda.

  • Visualização Intuitiva: O uso do Google My Maps oferece uma interface visual intuitiva, tornando fácil para os doadores localizar pontos de coleta perto deles. Isso não apenas facilita a logística de entrega das doações, mas também incentiva uma maior participação do público.

A trágica situação no Rio Grande do Sul serve como um alerta doloroso e um chamado à ação. Devemos integrar tecnologias avançadas e práticas sustentáveis em nossa gestão ambiental para não só responder de forma eficaz às crises, mas também preveni-las. 

Como profissionais da área tecnológica e ambiental, temos a responsabilidade e a capacidade de liderar essa transformação, garantindo um futuro mais seguro e resiliente.

E aproveito esse momento para convidar todos a refletirem sobre como podemos, individualmente e coletivamente, contribuir para mitigar esses desafios e proteger nossas comunidades.

Até a próxima edição da Kainos.

Vamos pra cima!

Henrique

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